domingo, 22 de março de 2015

São José


São José


São José



"Foi tão bonita..."

Viva São José! Deus seja louvado! É Deus quem tudo faz!

Para pensar e rezar durante a semana

"Em Jesus, Deus salva-nos fazendo-se vulnerável, a tal ponto que podemos matá-lo duma forma má e humilhante. A crucifixão e a ressurreição são a prova que Deus nunca retirará a sua oferta de amizade, por mais que façamos. Se a Cruz não conseguiu que Ele renunciasse a esta amizade, então nada levará Deus a mudar de opinião. No entanto nós podemos recusar esta oferta. A amizade exige uma relação mútua e devemos aceitar a oferta; não podemos ser obrigados nem enganados. Qualquer recusa definitiva desta amizade parte o coração de Deus. Mesmo assim, ele não nos vira as costas; vive eternamente com o coração partido. É esta a medida de vulnerabilidade que Deus quer ter. "
Extraído de Lenten Meditations, Willam A. Barry, Sj
 
Fonte: Lugar Sagrado
(lugarsagrado.com)

  

Se o grão de trigo não morrer

"Se o grão de trigo não morrer
dentro da terra fica só.
Mas se morrer dentro da terra
dará frutos abundantes..."

Deus está sempre à minha espera

Presença de Deus
                       
Estar presente é chegar igual a si próprio e abrir-se ao outro.
Neste instante em que chego aqui, Deus está presente à minha espera.
Deus chega sempre antes de mim, e com maior desejo
de estar comigo do que o meu amigo mais íntimo.
Paro um momento para saudar este Deus que me ama
e que está sempre à minha espera.

Se o grão de trigo não morrer...

A Palavra de Deus
João 12, 20-33

Entre os que tinham ido a Jerusalém para adorar a Deus na festa da Páscoa, encontravam-se alguns gregos. Foram ter com Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe o seguinte pedido: "Por favor, nós queríamos conhecer Jesus." Filipe foi dizer isso a André. Então André e Filipe levaram o pedido a Jesus. Ele respondeu-lhes: "Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Ouçam com atenção: se um grão de trigo lançado à terra não morrer, não dá fruto. Mas se morrer dá muito fruto. Quem se preocupa demais consigo mesmo, perde-se. Mas quem se despreza a si mesmo neste mundo, ganha a vida eterna. Se alguém quer servir-me, tem que seguir o meu caminho. Onde eu estiver, também ele estará. E o Pai há-de honrar todo aquele que me servir. Neste momento, o meu coração está perturbado. Mas que posso eu fazer? Pedir ao Pai que me livre do que está para me acontecer nesta hora? Mas eu vim ao mundo precisamente por causa desta hora!" Pai, manifesta o teu poder!" Veio então uma voz do céu que dizia: "Já o manifestei e voltarei ainda a manifestá-lo." A multidão que ali estava ouviu aquela voz. Uns diziam: "Foi um trovão!" Outros afirmavam: "Foi um anjo que lhe falou." Então Jesus disse-lhes: "Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir, mas por vossa causa.

quinta-feira, 19 de março de 2015

São José


Eu tão simples,
tão pequeno...
um carpinteiro e nada mais...
Mas meu Deus olhou pra mim
e me escolheu
pra ser pai do filho seu!...

Eis-me aqui,
faça-se em mim o teu querer...
Sou teu José, simples José e nada mais.

Eu sou escravo de tua promessa
feito pra amar até o fim.
Eu sou escravo de tua promessa
e sou feliz vivendo assim.

São José - João Paulo II


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA REDEMPTORIS CUSTOSDO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II SOBRE A FIGURA E A MISSÃO DE SÃO JOSÉ NA VIDA DE CRISTO E DA IGREJA


[Devemos recorrer a São José. E ter sempre  "diante dos olhos o seu modo humilde e amadurecido de servir e de «participar» na economia da salvação. "  ]

"Tenho para mim, efectivamente, que o facto de se considerar novamente a participação do Esposo de Maria no mistério divino permitirá à Igreja, na sua caminhada para o futuro juntamente com toda a humanidade, reencontrar continuamente a própria identidade, no âmbito deste desígnio redentor, que tem o seu fundamento no mistério da Incarnação.

Foi precisamente neste mistério que José de Nazaré «participou» como nenhuma outra pessoa humana, à excepção de Maria, a Mãe do Verbo Incarnado. Ele participou em tal mistério simultaneamente com Maria, envolvido na realidade do mesmo evento salvífico, e foi depositário do mesmo amor, em virtude do qual o eterno Pai «nos predestinou a sermos adoptados como filhos, por intermédio de Jesus Cristo» (Ef 1, 5).

"Se, depois do desponsório com José, se verificou que Maria «tinha concebido por obra do Espírito Santo», este facto corresponde a todo o conteúdo da Anunciação e, em particular, às últimas palavras pronunciadas por Maria: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Correspondendo ao desígnio claro de Deus, Maria, com o passar dos dias e das semanas , manifesta-se, diante das pessoas que contactava e diante de José, como estando «grávida», como mulher que deve dar à luz e que traz em si o mistério da maternidade.

 Nestas circunstâncias, «José, seu esposo, sendo justo e não a querendo expor à infâmia, resolveu desvincular-se dela secretamente» (Mt 1, 19). Ele não sabia como comportar-se perante a «surpreendente» maternidade de Maria. Buscava, certamente, uma resposta para essa interrogação inquietante; mas procurava, sobretudo, uma maneira airosa de sair daquela situação difícil para ele. Enquanto andava «a pensar nisto, apareceu-lhe, em sonho, um anjo do Senhor, que lhe disse: "José, filho de David, não temas receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados"» (Mt 1, 20-21).

[Maria disse sim a Deus ao dizer sim ao anjo.
José disse sim em silêncio, obedecendo e acolhendo Maria.]

«Despertando do sono, José fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu a sua esposa» (Mt 1, 24). Ele recebeu-a com todo o mistério da sua maternidade ; recebeu-a com o Filho que havia de vir ao mundo, por obra do Espírito Santo: demonstrou deste modo uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem àquilo que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro."

"O filho de Maria é também filho de José, em virtude do vínculo matrimonial que os une: «Por motivo daquele matrimónio fiel, ambos mereceram ser chamados pais de Cristo, não apenas a Mãe, mas também aquele que era seu pai, do mesmo modo que era cônjuge da Mãe, uma e outra coisa por meio da mente e não da carne». (13) Neste matrimónio não faltou nenhum dos requisitos que o constituem: «Naqueles pais de Cristo realizaram-se todos os bens das núpcias: a prole, a fidelidade e o sacramento. Conhecemos a prole, que é o próprio Senhor Jesus; a fidelidade, porque não houve nenhum adultério; e o sacramento, porque não se deu nenhum divórcio». (14)
Analisando a natureza do matrimónio, quer Santo Agostinho, quer Santo Tomás de Aquino situam-na constantemente na «união indivisível dos ânimos», na «união dos corações» e no «consenso»; (15) elementos estes, que, naquele matrimónio, se verificaram de maneira exemplar. No momento culminante da história da salvação, quando Deus manifestou o seu amor pela humanidade, mediante o dom do Verbo, deu-se exactamente o matrimónio de Maria e José, em que se realizou com plena «liberdade» o «dom esponsal de si» acolhendo e exprimindo um tal amor. "

«Nesta grandiosa empresa da renovação de todas as coisas em Cristo , o matrimónio, também ele renovado e purificado, torna-se uma realidade nova, um sacramento da Nova Aliança.

" Como depositário do mistério «escondido desde todos os séculos em Deus» e que começa a realizar-se diante dos seus olhos na «plenitude dos tempos», José encontra-se juntamente com Maria na noite de Belém, qual testemunha privilegiada da vinda do Filho de Deus ao mundo. São Lucas exprime-se assim: «Enquanto eles ali (em Belém) se encontravam, completaram-se para ela os dias da gestação. E deu à luz o seu filho primogénito, que envolveu em faixas e recostou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7).
José foi testemunha ocular deste nascimento, que se verificou em condições humanamente humilhantes, primeiro anúncio daquele «despojamento», no qual Cristo consentiu livremente, para a remissão dos pecados. Na mesma ocasião, José foi testemunha da adoração dos pastores, que acorreram ao lugar onde Jesus nascera, depois de um anjo lhes ter levado esta grande e jubilosa notícia (cf. Lc 2, 15-16); mais tarde, foi testemunha também da homenagem dos Magos, vindos do Oriente (cf. Mt 2, 11)."

"Desde o momento da Anunciação, José, juntamente com Maria, encontrou-se, em certo sentido, no íntimo do mistério escondido desde todos os séculos em Deus e que se tinha revestido de carne: «O Verbo fez-se carne e habitou entre nós» (Jo 1, 14). Sim, Ele habitou entre os homens e o âmbito da sua morada foi a Sagrada Família de Nazaré" (...)

"No decorrer da sua vida, que foi uma peregrinação na fé, José, como Maria, permaneceu fiel até ao fim ao chamamento de Deus. "  [O sim de José foi no silêncio. Ele fez o que o anjo lhe dissera no sonho, ele fez tudo o que Deus lhe pediu..."]

"Dirigindo-se a José com as palavras do anjo, Deus dirige-se a ele como sendo esposo da Virgem de Nazaré. Aquilo que nela se realizou por obra do Espírito Santo exprime ao mesmo tempo uma confirmação especial do vínculo esponsal, que já existia antes entre José e Maria. O mensageiro diz claramente a José: «Não temas receber contigo, Maria, tua esposa». Por conseguinte, aquilo que tinha acontecido anteriormente — os seus esponsais com Maria — tinha acontecido por vontade de Deus e, portanto, devia ser conservado. Na sua maternidade divina, Maria deve continuar a viver como «uma virgem, esposa de um esposo» (cf. Lc 1, 27).
19. Nas palavras da «anunciação» nocturna, José escuta não apenas a verdade divina acerca da inefável vocação da sua esposa, mas ouve novamente também a verdade acerca da própria vocação. Este homem «justo», que, segundo o espírito das mais nobres tradições do povo eleito, amava a Virgem de Nazaré e a ela se encontrava ligado por amor esponsal, é novamente chamado por Deus para este amor."

«José fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu consigo a sua esposa»; o que se gerou nela «é obra do Espírito Santo». Ora, de tais expressões, não se imporá porventura deduzir que também o seu amor de homem tinha sido regenerado pelo Espírito Santo? Não se imporá porventura pensar que o amor de Deus, que foi derramado no coração humano pelo Espírito Santo (cf. Rom 5, 5), forma do modo mais perfeito todo o amor humano? Ele forma também — e de maneira absolutamente singular — o amor esponsal dos cônjuges, nele dando profundidade a tudo aquilo que seja humanamente digno e belo e tenha as marcas da exclusiva entrega, da aliança das pessoas e da comunhão autêntica, a exemplo de Mistério trinitário."

«José ... recebeu consigo a sua esposa, a qual, sem que ele a conhecesse, deu à luz um filho» (Mt 1, 24-25). Estas palavras indicam ainda outra proximidade esponsal. A profundeza desta proximidade, a intensidade espiritual da união e do contacto entre pessoas — do homem e da mulher — provêm em última análise do Espírito que dá a vida (cf. Jo 6, 63). José, obediente ao Espírito, encontra precisamente nele a fonte do amor, do seu amor esponsal de homem; e este amor foi maior do que aquele «homem justo» poderia esperar, segundo a medida do próprio coração humano.
20. Na Liturgia, Maria é celebrada como tendo estado «unida a José, homem justo, por um vínculo de amor esponsal e virginal». (31) Trata-se, de facto , de dois amores que , conjuntamente, representam o mistério da Igreja, virgem e esposa, a qual tem no matrimónio de Maria e José o seu símbolo. «A virgindade e o celibato por amor do Reino de Deus não só não se contrapõem à dignidade do matrimónio, mas pressupõem-na e confirmam-na. O matrimónio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de viver o único Mistério da Aliança de Deus com o seu povo», (32) que é comunhão de amor entre Deus e os homens."

"Mediante o sacrifício total de si próprio, José exprime o seu amor generoso para com a Mãe de Deus, fazendo-lhe «dom esponsal de si». Muito embora decidido a afastar-se, para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava a realizar-se, por ordem expressa do anjo ele manteve-a consigo e respeitou a sua condição de pertencer exclusivamente a Deus.
Por outro lado, foi do matrimónio com Maria que advieram para José a sua dignidade singular e os seus direitos em relação a Jesus. «é certo que a dignidade da Mãe de Deus assenta tão alto, que nada pode haver de mais sublime; mas, por isso mesmo que entre a Santíssima Virgem a José foi estreitado o vínculo conjugal, não há dúvida de que ele se aproximou como ninguém dessa altíssima dignidade, em virtude da qual a Mãe de Deus ocupa lugar eminente, a grande distância de todas as criaturas. Uma vez que o casamento é a comunidade e a amizade máxima a que, por sua natureza, anda ligada a comunhão de bens, segue-se que, se Deus quis dar José como esposo à Virgem, deu-lo não apenas como companheiro na vida, testemunha da sua virgindade e garante da sua honestidade, mas também para que ele participasse, mediante o pacto conjugal, na sua excelsa grandeza."

"Um tal vínculo de caridade constituiu a vida da Sagrada Família; primeiro, na pobreza de Belém, depois, durante o exílio no Egipto e, em seguida, quando ela morava em Nazaré. A Igreja rodeia de profunda veneração esta Família, apresentando-a como modelo para todas as famílias."

"(...) em Cristo foi também «assumido» tudo aquilo que é humano e, em particular, a família, primeira dimensão da sua existência na terra. Neste contexto foi «assumida» também a paternidade humana de José."

"São José é o modelo dos humildes, que o Cristianismo enaltece para grandes destinos; ... é a prova de que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não se necessitam «grandes coisas», mas requerem-se somente virtudes comuns, humanas, simples e autênticas".

" (...) quanto ao trabalho de carpinteiro na casa de Nazaré se estende (...)  clima de silêncio, que acompanha tudo aquilo que se refere à figura de José. Trata-se, contudo, de um silêncio que desvenda de maneira especial o perfil interior desta figura. Os Evangelhos falam exclusivamente daquilo que José «fez»; no entanto, permitem-nos auscultar nas suas «acções», envolvidas pelo silêncio, um clima de profunda contemplação. José estava quotidianamente em contacto com o mistério «escondido desde todos os séculos», que «estabeleceu a sua morada» sob o tecto da sua casa. (...)

26. O sacrifício total, que José fez da sua existência inteira, às exigências da vinda do Messias à sua própria casa, encontra a motivação adequada na «sua insondável vida interior, da qual lhe provêm ordens e consolações singularíssimas; dela lhe decorrem também a lógica e a força, própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como foi a de colocar imediatamente à disposição dos desígnios divinos a própria liberdade, a sua legítima vocação humana e a felicidade conjugal, aceitando a condição, a responsabilidade e o peso da família e renunciando, por um incomparável amor virgíneo, ao natural amor conjugal que constitui e alimenta a mesma família». 

"A comunhão de vida entre José e Jesus leva-nos a considerar ainda o mistério da Incarnação precisamente sob o aspecto da humanidade de Cristo, instrumento eficaz da divindade para a santificação dos homens: «Por força da divindade, as acções humanas de Cristo foram salutares para nós, produzindo em nós a graça, quer em razão do mérito, quer por uma certa eficácia».

"Uma vez que o amor «paterno» de José não podia deixar de influir sobre o amor «filial» de Jesus e, vice-versa, o amor «filial» de Jesus não podia deixar de influir sobre o amor «paterno» de José, como chegar a conhecer as profundezas desta singularíssima relação? Justamente, pois, as almas mais sensíveis aos impulsos do amor divino vêem em José um exemplo luminoso de vida interior.
Mais ainda, a aparente tensão entre a vida activa e a vida contemplativa tem em José uma superação ideal, possível para quem possui a perfeição da caridade. Atendo-nos à conhecida distinção entre o amor da verdade (caritas veritatis) e as exigências do amor (necessitat caritatis), podemos dizer que José fez a experiência quer do amor da verdade, ou seja, do puro amor de contemplação da Verdade divina que irradiava da humanidade de Cristo, quer das exigências do amor, ou seja, do amor igualmente puro do serviço, requerido pela protecção e pelo desenvolvimento dessa mesma humanidade".
 
Papa João Paulo II

Fonte: EXORTAÇÃO APOSTÓLICA REDEMPTORIS CUSTOSDO SUMO PONTÍFICE   JOÃO PAULO II SOBRE A FIGURA E A MISSÃO   DE SÃO JOSÉ NA VIDA DE CRISTO E DA IGREJA
In:
http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_15081989_redemptoris-custos.html

Dia de São José - São José dormindo



 
 
"Há pouco tempo vi em casa de uns amigos uma representação de S. José que me fez pensar muito. É um alto-relevo proveniente de um retábulo português da época barroca, em que se mostra a noite da fuga para o Egito. Vê-se uma tenda aberta, e, perto dela, um anjo de pé. Dentro da tenda, José está a dormir, mas vestido com a indumentária própria de um peregrino, calçado com botas altas, necessárias para uma caminhada difícil. Se na primeira impressão parece um pouco ingénuo que o viajante apareça também como adormecido, pensando melhor começamos a perceber o que a imagem nos quer sugerir.

Os silêncios
José dorme, é verdade, mas está simultaneamente disposto a ouvir a voz do anjo (Mt 2,13ss). Parece depreender-se da cena o que o Cântico dos Cânticos tinha proclamado: eu dormia, mas o meu coração estava vigilante (Ct 5,2). Os sentidos exteriores repousam, mas o fundo da alma pode ser tocado. Nessa tenda aberta temos a representação do homem que, desde o mais profundo do seu ser, pode ouvir o que vibra no seu interior ou lhe é dito desde as alturas, do homem cujo coração está suficientemente aberto para receber aquilo que o Deus vivo e o seu anjo lhe querem comunicar. Nessa profundidade, a alma de qualquer homem pode encontrar-se com Deus. Nessa profundidade, Deus fala a cada um de nós e mostra-nos como está próximo.
Contudo, na maior parte das vezes encontramo-nos invadidos por cuidados, inquietações, expectativas e desejos de toda a espécie, tão repletos de imagens e carências produzidas pela vida de cada dia, que, por muito que vigiemos exteriormente, é-nos pedida a vigilância interior e, com ela, o som das vozes que nos falam desde o mais íntimo da alma. Esta está tão sobrecarregada e são tantas as muralhas erguidas no seu interior, que a voz suave do Deus próximo não consegue fazer-se ouvir.
Com a chegada da Idade Moderna, os homens têm vindo a dominar cada vez mais o mundo e a dispor das coisas à medida dos seus desejos; mas estes avanços no nosso domínio sobre as coisas, e no conhecimento do que com elas podemos fazer, limitaram, por outro lado, a nossa sensibilidade, de tal maneira que o nosso universo se tornou unidimensional. Estamos dominados pelas nossas coisas, por todos os objetos que as nossas mãos alcançam, e que servem de instrumentos para produzir outros objetos. No fundo, não vemos outra coisa senão a nossa própria imagem, e estamos incapacitados para ouvir a voz profunda que, desde a Criação, nos fala também hoje da bondade e da beleza de Deus.
Esse José que dorme, mas que ao mesmo tempo está preparado para ouvir o que ecoe no seu íntimo e desde o alto - porque não é outra coisa o que o Evangelho deste dia acaba de nos dizer -, é o homem em que se unem o recolhimento íntimo e a prontidão. A partir da tenda aberta da sua vida, convida a retirarmo-nos um pouco do bulício dos sentidos; para que recuperemos também nós o recolhimento; para que saibamos dirigir o olhar para o interior e para o alto, para que Deus possa tocar a nossa alma e comunicar-lhe a sua palavra. A Quaresma é um tempo especialmente adequado para nos afastarmos das vicissitudes quotidianas, e dirigirmos novamente os nossos passos pelos caminhos do interior".

Fonte: http://www.snpcultura.org/sao_jose_bento_xvi_e_imagem_barroca_portuguesa.html